Análise Literária | O Noivado no Sepulcro
- Vinícius Gomes
- 11 de jun. de 2016
- 3 min de leitura

O Noivado no Sepulcro foi o poema mais célebre de Soares de Passos, um poeta romântico participante do segundo momento do romantismo em Portugal, este escritor é um ótimo exemplo do ultra-romantismo pois sua obra trata-se de uma poesia cemiterial, profundamente mórbida e noturna, possuía um negro pessimismo e derrotismo caracterizando assim o chamado “mal do século” que influenciou boa parte dos artistas da época.
O poema propriamente dito é construído por dezenove versos decassílabos no formato A, B,A,B, onde primeiramente será feito um breve resumo da obra e então uma análise mais aprofundada dos versos mais relevantes.
A obra retrata a história de um homem que morreu e depois de frustrado ao esperar a visita de sua amada por três dias, sem sucesso, ele resolve levantar-se do seu tumulo e vagar pelo cemitério até que para ante uma cruz de uma sepultura próxima a um cipreste e direciona suas lamentações e acusações ao lugar. Em dado momento surge uma mulher também falecida que nega as acusações por ele feitas e revela ser sua amada, diz que não o abandonou, ao contrário do que ele havia pensado, ela na verdade teria falecido dada a sua impossibilidade de viver sem ele conclui-se então que ambos se entendem de forma que no raiar do dia os corpos dos dois estão agora unidos numa só sepultura.
Que paz tranquila! ... mas eis longe, ao longe Funérea campa com fragor rangeu; Branco fantasma semelhante a um monge, D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.
Este é o momento no poema em que o homem se ergue de seu túmulo, a percepção da morbidez é feita nessa passagem com a ideia de que a história se passa num grande espaço em que o único ato é o de um fantasma se erguendo da sepultura.
Chegando perto duma cruz alçada, Que entre ciprestes alvejava ao fim, Parou, sentou-se e com a voz magoada Os ecos tristes acordou assim:
Nesse momento o fantasma do homem finda o seu vaguear pelo cemitério e começa seu coro de lamentações.
"Abandonado neste chão repousa "Há já três dias, e não vens aqui... "Ai, quão pesada me tem sido a lousa "Sobre este peito que bateu por ti!
É perceptível nesse instante que as lamúrias feitas são dedicadas a uma mulher amada pelo finado a qual aparentemente deixou de visita-lo, enquanto morto, e a alma desse homem abandonada até então, o fez cair em desespero.
- "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda, Responde um eco suspirando além... - "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda Formosa virgem que em seus braços tem.
Está então é a resposta dada por uma mulher até então desconhecida que nega as acusações feitas pelo homem.
"Não, não perdeste meu amor jurado: "Vês este peito? reina a morte aqui... "É já sem forças, ai de mim, gelado, "Mas inda pulsa com amor por ti.
Agora é possível distinguir a mulher que falou anteriormente como sendo a mesma a qual estava sendo acusada de abandono, além disso, fica evidente também o fato de que ela está morta e ainda subentende-se que esta morreu dada a falta que o finado a fazia.
"Saudosa ao longe vês no céu a lua? - "Oh vejo sim... recordação fatal! - "Foi à luz dela que jurei ser tua "Durante a vida, e na mansão final.
Neste momento as duas almas já se entenderam e agora relembram o tempo em vida quando fizeram suas juras de amor pela primeira vez e de como essa promessa se mantém mesmo após a morte.
"Oh vem! se nunca te cingi ao peito, "Hoje o sepulcro nos reúne enfim... "Quero o repouso de teu frio leito, "Quero-te unido para sempre a mim!"
É nesta passagem que os dois amantes decidem por se unirem e findarem com o desejo e a saudade que um sentia do outro.
Porém mais tarde, quando foi volvido Das sepulturas o gelado pó, Dois esqueletos, um ao outro unido, Foram achados num sepulcro só.
No verso final, o desfecho da história é dado pela manhã quando finalmente juntos os dois amantes se reúnem em uma só sepultura para que possam passar a eternidade “vivendo” o amor que já lhes fora negado uma vez.
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