Questões Comentadas I
- 2AT
- 11 de jun. de 2016
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1) (UFSCar-2003) A questão seguinte baseia-se nos textos a seguir.
Iracema, de José de Alencar.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida. (...)
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada. O guerreiro falou:
- Quebras comigo a flecha da paz?
-Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram
outro guerreiro como tu?
- Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
- Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras,senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.
Rosinha, minha canoa, de José Mauro de Vasconcelos.
Achava-se contente da vida, pescando e salgando o seu peixinho, quando a canoa do índio atracou na praia.
-Que é que foi Andedura?
Andedura sungou a canoa na areia.
- Zé Orocó, tem lá um home. Diz que é dotô. Quando dá fé é mesmo, purque ele tem uma mala cheia de ropa e outra cheia de munto remédio.
- E que é que ele quer comigo?
- Sei não. (...) Tu vai?
O coração de Zé Orocó fez um troque-troque meio agoniado. Franziu a testa, tentando vencer, afastar um mau pressentimento.
-Como é que é o homem?
Grandão, meio laranjo no cabelo. Forte, sempre mudando a camisa pur causa do calô. Se tira a camisa, num güenta “mororã” purque tem pele branquinha, branquinha. Peitão meio gordo, ansim que nem ocê, cheio de sucusiri. Quano chegô, tinha barriga meio grande, mais parece que num gosta munto de cumida da gente; tá ficano inxuto. Eu pensei que ele fosse irmão daquele padre Gregoro, que pangalô aqui pelo Araguaia já vai pra uns cinco ano ... Feito o retrato o índio descansou ...
Em Iracema, Alencar traz como personagem central uma índia.
a) Como se define a personagem Iracema, mulher e índia, em relação ao movimento literário a que pertenceu Alencar?
Resposta: Iracema é retratada como uma guerreira, bonita, gentil. E essas características apresentam uma valorização de personagem indígena, que era o principal objetivo do romantismo na primeira geração, a indianista. Iracema é a típica heroína do indianismo.
b) Os vocativos presentes nas falas de Iracema e do moço desconhecido permitem analisar como cada um deles concebia o outro. Transcreva esses vocativos do texto e explique a imagem que Iracema tinha do desconhecido e a imagem que ele tinha de Iracema.
Resposta: Iracema o chama de “guerreiro branco”, mostrando que considerava-o um guerreiro, Martim a chama de “filha das florestas”, mostrando que ele a via como uma parte da floresta por viver lá.
2) (Unicamp-2001) Em Ubirajara, tal como em Iracema e em O Guarani, José de Alencar propõe uma interpretação de Brasil em que o índio exerce um papel central.
a) Que sentido têm as sucessivas mudanças de nome do protagonista no romance?
Resposta: Ele troca de nome para diferenciar as diferentes fases pelas quais ele passa. Ele é primeiramente chamado de Jaguarê , quando ainda é um jovem caçador , mas depois passa a se chamar Ubirajara, quando se torna adulto, simbolizando a mudança que ele sofreu.Também é possível observar na obra que ele é chamado de Jurandir, mas somente temporariamente por conta do rito de hospitalidade pelo qual passa quando vai atrás de Araci em Tocantins.
b) Qual o papel das notas explicativas nesse romance? Do que elas tratam em sua maior parte?
Resposta: As notas ajudam a compreender melhor a obra, elas tratam em sua maior parte de observações quanto a etnia , linguística e fatos históricos , que o autor abordou de um jeito que talvez não fossem tão convencionais e para não confundir o leitor resolveu adicionar as notas para que houvesse uma compreensão mais completa da obra.
c) Como o romance e suas notas tratam o ritual antropofágico, no empenho de construir uma visão do período pré-cabralino?
Resposta: É possível observar pelas notas, que a obra tenta mostrar que o ritual antropofágico não se trata de uma barbárie e sim um costume da cultura indígena.
3) (Unifesp-2003) A questão a seguir baseia-se em duas tirinhas de quadrinhos, de Maurício de Sousa (1935-), e na “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias (1823-1864).

Canção do Exílio
(...)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Antônio Gonçalves Dias, Primeiros Cantos)
Gonçalves Dias consolidou o romantismo no Brasil. Sua “Canção do exílio” pode ser considerada tipicamente romântica porque:
a) apóia-se nos cânones formais da poesia clássica greco-romana; emprega figuras de ornamento, até com certo exagero; evidencia a musicalidade do verso pelo uso de aliterações.
b) exalta terra natal; é nostálgica e saudosista; o tema é tratado de modo sentimental, emotivo.
c) utiliza-se do verso livre, como ideal de liberdade criativa; sua linguagem é hermética, erudita; glorifica o canto dos pássaros e a vida selvagem.
d) poesia e música se confundem, como artifício simbólico; a natureza e o tema bucólico são tratados com objetividade; usa com parcimônia as formas pronominais de primeira pessoa.
e) refere-se à vida com descrença e tristeza; expõe o tema na ordem sucessiva, cronológica; utiliza-se do exílio como o meio adequado de referir-se à evasão da realidade.
Resposta LETRA B
Comentário: Pode se eliminar a primeira alternativa, porque o poema é romântico, logo não tem características greco-romana; a alternativa “c” está incorreta por que o poema não glorifica o canto dos pássaros e sim a terra natal do autor; a alternativa “d “não pode ser assinalada como correta por trazer características do Arcadismo e o poema não faz parte dessa escola literária; encontra-se incorreta também a alternativa “e” por não corresponder às características encontradas no poema , restando assim a alternativa “b” , sendo esta a correta.
4) (ENEM-2001) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha,não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno,que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.” ASSIS, Machado de.Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:
a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...
b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, ...
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...
e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
Resposta LETRA A
Comentário: Não é possível observar que foi feita uma crítica em nenhuma das alternativas a não ser pela alternativa “a”, pois nela o vê-se que o autor traz uma moça que não pode ser considerada perfeita , como ocorreria convencionalmente no Romantismo.
5) (ITA-2003) Leia com atenção os textos abaixo.
IRACEMA - CAPÍTULO II
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como o seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra comas primeiras águas. (JOSÉ DE ALENCAR)
MACUNAÍMA - CAPÍTULO I
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto e retinto e filho do medo da noite. Houve momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uiracoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Se o incitavam a falar exclamava:
- Ai! Que preguiça… (MÁRIO DE ANDRADE)
a) Romantismo e Modernismo são dois movimentos literários de fundo nacionalista. Com base nessa afirmação, indique pontos de contato entre as obras “Iracema” e“Macunaíma” que podem ser comprovados pelos excertos anteriores.
Resposta: Os dois personagens foram criados para trazer o Indianismo á história.
b) Encontre nos textos, ao menos, uma diferença entre o estilo de Mário de Andrade e o de José de Alencar.
Resposta: É possível perceber que José de Alencar traz o índio como um herói quando traz carcterísticas fortes para Iracema , já Mário de Andrade mostra mais o lado ruim quando diz que Macunaíma era preguiçoso.