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Análise Literária | SAUDADES

  • Elton Jonathas
  • 23 de jul. de 2016
  • 3 min de leitura


Este poema está contido na primeira parte da Lira dos Vinte Anos, onde é encontrada uma temática mais sentimental, mais adolescente, em que o sonho, o devaneio, as imagens gasosas de virgens pálidas pairam entre nuvens, estrelas e luares. Nessa primeira parte, o autor se caracteriza como um menino bastante sensível e com uma percepção dolorosamente delirante.


Com relação à formalidade, o poema possui versos livres que formam certa musicalidade e melodia. As figuras de linguagem aliteração, anáfora e metáfora estão presentes assim como rebuscamento de palavras.


SAUDADES

Foi por ti que num sonho de ventura

A flor da mocidade consumi,

E às primaveras disse adeus tão cedo

E na idade do amor envelheci!


O eu lírico demonstra como se deu a sua perda de mocidade. A sua juventude foi consumida por outra que aparece ainda de forma indefinida. A fuga para o sono e a morte que se encontra aqui é, na verdade, uma fuga na literatura, que consome a juventude do poeta-leitor. Há também, a inversão de significado do carpe diem, onde, no texto, o autor se refere à mocidade como a velhice da alma.

Vinte anos! Derramei-os gota a gota

Num abismo de dor e esquecimento...

De fogosas visões nutri meu peito...

Vinte anos!... Não vivi um só momento!


Nesta estrofe, o eu lírico descreve sobre seu amor sofrido na juventude. A dor profunda do poeta se faz presente. Nesse momento, pode-se afirmar que o autor derrapa na autopiedade, pois se mostra como vítima de fogosas visões e de sentimentos amorosos que o lançaram num abismo de dor e sofrimento, além de levá-lo a perder sua juventude e dela não apreciar nenhum momento.


Contudo, no passado uma esperança!

Tanto amor e ventura prometia,

E uma virgem tão doce, tão divina

Nos sonhos junto a mim adormecia!...

[...]

Nesta parte é possível observar uma fuga do poeta para a literatura consumida na sua juventude como poeta-leitor de grandes escritores da literatura universal: Lamartine e Goethe. Ao longo do poema há contradições sentimentais do autor porque, em alguns momentos, ele se refere a isso manifestado na sua perda de mocidade e, em outros, como uma oportunidade de recompensa de seus sofrimentos.


A ti se ergueram meus doridos versos,

Reflexos sem calor de um sol intenso:

Voltei-os à imagem dos amores

Pra velá-las nos sonhos como incenso!


Aqui ele fez a dedicatória de seus versos a essa virgem de nome não revelado. Na expressão “Reflexos sem calor de um sol intenso”, além de haver antítese o autor se refere ao reflexo sem calor como um finíssimo raio de esperança diante do negrume da realidade. E ainda, ao afirmar “Voltei-os à imagem dos amores”, procura equiparar seus versos às imagens idealizadas desses “amores”.

Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,

Tantas noites de febre e d’esperança!

Mas hoje o coração desbota, esfria,

E do peito no túmulo descansa!


Nessa estrofe, é possível identificar um escapismo na morte. Assim como é característico do Ultrarromantismo, o autor enxerga a morte não como o fim vida em si, mas como o fim do sofrimento, ou seja, todo o amor que sonhou, todas as venturas, são gratificados com uma morte em que todos os seus anseios são recompensados.


Pálida sombra dos amores santos,

Passa, quando eu morrer, no meu jazigo;

Ajoelha-te ao luar e canta um pouco,

E lá na morte eu sonharei contigo!


Na última estrofe, o autor dá um aviso a essa virgem pálida. Numa espécie de vida após a morte, o autor defunto escreve para ela manifestando que a morte apenas o libertou do fardo material, que seu amor por ela ainda continua vivo e que basta ela cantar próximo ao túmulo para que eles continuem manifestando seus sentimentos.

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      Olá, somos do segundo ano de Telecomunicações (2AT) da Fundação Nokia e criamos este blog com o objetivo de auxiliar e esclarecer as dúvidas com relação a escola literária do Romantismo, tendo foco no autor José de Alencar, de modo que encontrem aqui questões de vestibulares comentadas, biografias dos autores, vídeos, análises, resenhas e entre outros recursos que facilitem o aprendizado. Este também é um exercício avaliativo aplicado pela professora Dayanna Porto, professora de Língua Portuguesa e Literatura.

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