PRODUÇÕES ORIGINAIS | O DESCONHECIDO
- Elton Jonathas
- 26 de jul. de 2016
- 3 min de leitura

Numa sorveteria que ficava a umas três quadras da casa de seus pais, ao final da tarde de sexta-feira, estava Helena conversando com Vitória sobre um garoto que muito lhe chamara a atenção.
Helena tinha 15 anos, alta e como há pouco havia entrado no mundo adolescente, não tinha muita noção de como seria namorar pela primeira vez e também não tinha nenhum outro tipo de experiência. Vitória tinha dois anos a mais que a amiga e já havia namorado mais de uma vez, as duas eram amigas desde a infância.
Durante a conversa, Helena contou à amiga que sempre que voltava para casa trocava olhares com um garoto alto, de olhos, cor da pele e cabelos claros, o qual, certamente, era um novo morador do bairro e morava perto de sua casa.
- Eu acho que já o vi por aqui alguns dias atrás. Respondeu Vitória.
- Queria poder conhecê-lo.
Algum tempo depois, Vitória a contou que foi convidada pelos amigos de sua escola a participar de uma festa que seria realizada no sábado à noite, numa velha casa abandonada do Bairro onde os jovens se reuniam para fazer festas e beber e também disse a ela que poderia ir se quisesse. E ela respondeu:
- Como você sabe, eu nunca fui a esse tipo de festa e meus pais nunca permitiriam que eu fosse.
- Mas eles não precisam saber, será na hora em que todos estarão dormindo.
- Eu quero muito ir.
Logo depois se despediram e voltaram para suas casas. Helena passou o resto da noite e todo o dia seguinte com ansiedade para ir à festa, mas não demonstrava isso na frente de seus pais.
Passado o dia e chegando a hora da festa, Helena esperou que seus pais fossem dormir. Logo depois, foi se arrumar. Vestiu uma blusa decotada e uma minissaia, pegou emprestado um salto alto de sua mãe e um par de brincos, e, maquiou-se de modo extravagante.
Quando chegou a hora do encontro, Vitória e seus amigos a esperavam próximo de sua casa. Helena conseguiu sair de casa sem que seus pais acordassem. Depois de se encontrar com seus amigos seguiram para a casa abandonada. Mesmo um pouco distante, já era possível ouvir o som da música que lá tocava.
Quando entrou na casa, mesmo estando na presença da amiga e de conhecidos, Helena não sabia como se comportar em uma festa adolescente. Todos começaram a beber, mas ela foi a única que não quis.
Num certo momento, quando olhava para todos que estavam presentes, avistou o garoto que tanto queria conhecer. Ele também a notou. Helena percebeu que ele estava desacompanhado e solitário, então perguntou à Vitória sobre o que achava de ela ir falar com ele. Ela respondeu:
- Ele não é nada mau, boa sorte.
Os amigos de Vitória concordaram e apoiaram Helena.
Então ela foi até ele, se apresentou e ele também fez o mesmo. Passaram a conversar durante um bom tempo. Quando ela menos esperava, ele segurou sua mão onde sentiu um pequeno ardor, e a fez realizar seu primeiro beijo.
Depois voltaram a conversar...
Algum tempo depois ele disse:
- Vou até o bar pegar algumas bebidas. Ela disse que o esperaria.
Passaram-se vinte minutos, ele ainda não tinha voltado e ela o perdera de vista. Nesse momento, Vitória e seus amigos já estavam embriagados e chamaram Helena para voltar para casa. Ela teve que ir sem nem mesmo ter se despedido do garoto.
Durante a volta, ela notou um corte quase imperceptível numa parte de sua mão onde o garoto havia segurado, mas não deu importância, já que sua mente só pensava no garoto.
Quando voltou para casa tudo ia bem.
Três dias depois, de manhã, quando se reencontrou com Vitória na mesma sorveteria que estavam há alguns dias, ambas compartilharam o que passaram durante a festa. Helena também a contou que depois da festa nunca mais tinha visto o garoto.
Depois de esgotados os assuntos das conversas, elas compraram um jornal de um velho vendedor que passava por ali para lerem a parte de entretenimento. Ao folheá-lo, Helena vê no jornal a foto do garoto que a deixou sozinha na festa, mostra para Vitória, e ambas se deparam com a seguinte manchete:
“Adolescente foragido por usar lâminas com sangue contaminado com HIV em festas noturnas, propositalmente, para transmitir aos outros”.